sexta-feira, janeiro 25, 2013

Especial ANIVERSÁRIO DE SÃO PAULO: O Signo da Cidade

A primeira vez foi no dia 25/01/11 e, de lá para cá, assisto sem periodicidade, além de todo dia 25 de janeiro. Eu procurava algo que tivesse São Paulo como personagem mostrando os habitantes e seus caminhos, e encontrei. Incrível como a cada a vez eu percebo mais detalhes que deixei passar; é como se eu ficasse em estado inebriante, paradoxalmente deixando coisas passarem despercebidas à minha atenção.



A astróloga Teca dá consultorias ao vivo num programa de rádio e aos poucos vai percebendo que existe uma conexão entre todas as pessoas da Cidade. As histórias se entrelaçam, os destinos são traçados e ela descobre o que aconteceu no seu passado, ao mesmo tempo em que o socorro aos outros não pode parar.

Já virou tradição. Em todo aniversário de São Paulo eu coloco o filme pra reproduzir e me faço feliz.



– (...)Eu tava andando na rua e aí eu vi aquele casal. Os dois juntos, felizes, junto com outro, e aquilo foi me dando um nó, sabe? Foi me dando uma agonia. Parece que todo mundo tá feliz, menos eu. Me dá raiva, entende?
– Um amigo meu me disse uma frase do Nelson Mandela que diz que você não é amado porque você é bom, mas você é bom porque você é amado.
– Eu nunca fui amada... não mesmo. Eu tô muito, eu tô... Eu tô tão sozinha.
– Mas de alguma maneira, Valquíria, a gente tá interligado com os outros. Tá todo mundo conectado, ninguém tá sozinho... mesmo quando a gente acha que não pertence... mesmo quando cê não tem a quem recorrer.
Todo mundo precisa de todo mundo. A gente precisa mais um do outro do que a gente imagina. Um gesto, às vezes um simples gesto, mesmo anônimo, faz uma enorme diferença.

O TEMPO É NUBLADO NA CIDADE DE SÃO PAULO...

TECA (Bruna Lombardi) – Astróloga, radialista. Estabelece um contato próximo com quem acaba por ajudar.

ANIBAL (Juca de Oliveira) – Pai de Teca e ex-marido de Helena, mãe dela. Encontra-se muito doente, internado num hospital, à beira da morte.

MONICA (Graziella Moretto) – Assistente e amiga de Teca. É interesseira, entregue e indiferente aos problemas de vida alheios.

DEVANIR (Fernando Alves Pinto) – Golpista, suposto dono de uma agência de viagens que conhece Monica num assalto e acabam se relacionando por um curto período de tempo.

ASSALTANTE (Rogério Brito) – Furta e negocia com Monica e Devanir ‘’umas correntinha, umas pulserinha de ouro’’... Também atira e mata Sombra sem intenção numa ocorrência criminosa.

SOMBRA (Luís Miranda) – Enfermeiro do hospital onde Anibal está internado. Acaba cuidando da filha do assaltante quando fica doente e de Julia, quando provoca um aborto autoinduzido.

LUIS (Thiago pinheiro) – Garoto abandonado, depressivo e suicida, que se distrai pixando muros pela Cidade. Tem uma relação com Teca, a qual dá consultas e conselhos para o garoto e namorava com Julia. Ele se suicida quando Teca lhe dá um choque de realidade.


– Eu não sei mais o que fazer. Cê precisa procurar outra pessoa, eu não to conseguindo te ajudar.
– Ninguém consegue.
– Sabe o que acontece, cara? O mundo não gira em torno de você; existem bilhões de pessoas com problemas, muito maiores do que os seus, só que você adora seus problemas; você se agarra neles e não quer se livrar deles de jeito nenhum! Você ADORA ter pena de você mesmo. ACORDA, LUIS! Sabe, se você não consegue se ajudar, vai ajudar quem precisa, faz alguma coisa pelos outros.

JULIA (Laís Marques) – Suicida, ex-namorada de Luis e sem sentido existencial. Fica grávida e provoca o próprio aborto. Teca, por sua vez, encontra uma foto dos dois nos cadernos de Luis e acaba cuidando de Julia.

– Quero ficar sozinha.
– Trouxe uma sopa... e uns antibióticos. Tem que tomar de seis em seis horas.
– Iih, que que cê é? Assistente social, porra?! Quem que te mandou, foi minha vó que te mandou?
– Hã, então cê tem uma vó?
– Nem sei. Vai ver já morreu, fodida. Que se dane, eu também tô fodida num mundo fodido.
– O mundo é o que cê faz dele.
– Ah, eu não a fim de ouvir nada, valeu? Lição de moral, tô fora, cara!
Quem é você? Que que cê quer?
– Só te dar uma sopa. Falta ar aqui dentro.


GABRIEL (Kim Riccelli) – Baixista e filho de Isadora. Acaba conhecendo e se relacionando com Julia quando a mãe se suicida. Antes disso, ele comprou uma passagem de avião para a mãe, ‘’ela tá... precisando ficar feliz’’.


ISADORA (Irene Stefania) – Mãe de Gabriel. Mulher depressiva e desesperada que liga para o programa de Teca e nesse momento chega ao seu limite físico e emocional.

CLIENTE RICA (Cristina Mutarelli) – Mãe de Jorge Augusto. Consulta-se e faz de Teca uma ouvinte e amiga pessoal.

ADÉLIA (Eva Wilma) – Cuidou de Teca com Helena quando o pai as abandonou por terem uma relação afetiva.

– Adélia, eu não-sei-se-eu-to entendendo. Eu quero que você me diga o que tem pra me dizer. Seja o que for.
– Ahh, agora eu vou tirar esse peso de dentro do meu coração!
Teca, a verdade é que teu pai não foi embora atrás de nenhuma outra mulher. Ele acabou percebendo, ele descobriu que a Helena me amava... Era a mim que ela amava, não a ele. Desde o tempo em que dávamos aula juntas, na mesma escola. Nós nos vimos sozinhas, com você pra criar, sem ajuda de ninguém; teu pai ameaçando tirar você da tua mãe.
– Ele queria ficar comigo?
– Ameaçou, depois sumiu, depois nunca mais apareceu; nunca mais sequer mandou um tostão pro teu sustento.
– Minha mãe podia ter entrado na justiça.
– Tua mãe ia ser perseguida... Podia até ser presa. Cê não tem ideia de como era difícil, de como É DIFÍCIL, naquela época, então... Ser desquitada já era um escândalo, imagine uma mulher... assumindo o amor... por outra mulher...
É duro o preconceito. Foi isso que matou a Helena... o preconceito. Depois que a Helena morreu, eu morri também.

LYDIA (Denise Fraga) – Mulher de Gil e adúltera. Acaba se consultando com Teca e transmite segredos a ela.

RAFAEL (Marcelo Lazzaratto) – Enfermeiro do hospital onde Anibal está internado. É amigo de Josi e de Biô e acaba realizando o parto de uma mulher num estacionamento.

BIÔ (Bethito Tavares) – Trabalha na rádio com Teca e Monica. É gay e amigo de Josi. Quando uma mulher dá a luz num estacionamento, Biô acaba ficando com o bebê e entrega-o para sua mãe criar.


JOSI (Sidney Santiago) – Travesti e garota de programa. Amiga de Biô. Consulta-se com Teca.

JORGE AUGUSTO (Pedro Henrique Moutinho) – Filho mimado, inconseqüente e intolerante da cliente rica de Tereza. Com o seu amigo, encontra Josi à espera de clientes e a agride de forma violenta.


DELEGADO (Zécarlos Machado) – Cuida do assassinato de Sombra e do suicídio de Luis no apartamento de Teca. Com Josi, faz um programa.

ENFERMEIRA YOLANDA (Valéria Lauand) – Enfermeira do hospital onde Anibal está internado. Mulher caridosa e altruísta.

– Ele pode morrer a qualquer minuto! É uma questão de piedade, né Fátima?
– Ficar pelada por piedade?
– Ele tá morrendo!
– Eu fico.
– Cê tá doida, Yolanda?
– Que que tem? Eu tô toda hora vendo tudo quanto é paciente pelado. Ah, pra que tanta honra?
– Ah, mas é diferente, né Yolanda?
– Ah, que o que? Hoje você tá aqui, amanhã você que é o paciente, sabe Deus!

GIL (Malvino Salvador) – Marceneiro, marido de Lydia e vizinho de Teca. Acaba tendo uma relação mais íntima com Teca antes de partir.

– Desculpa. Eu sempre detestei os caras que traem as mulheres, eu sempre achei isso uma merda!
– É melhor você ir embora.
– Agora me diz: e isso... A gente tá causando esse erro agora? Mudando o rumo dos astros? Ou isso já tava previsto na nossa história?
Se eu perguntar? Os oráculos vão me dizer pr’eu jogar tudo pro alto... e viver isso? Ou levantar daqui, mesmo contra minha vontade... e ir embora?



IMPRESSÕES [A SÃO PAULO DO SIGNO DE PERSONALIDADE FORTE E AUTÊNTICA]

De acordo com o que vemos em tela, parte da intenção era reproduzir o comportamento da sociedade inserida nesta grande metrópole.

Se para julgar um filme é fundamental pontuar o que ele atingiu e se alcançou a própria proposta, diz-se (ou digo) que O Signo da Cidade tem um roteiro excepcional (por BRUNA LOMBARDI) e não deixa itens escaparem.

Depressão, suicídio, acidentes, o fundo do poço, não somos poupados de nada disso.

– Tanta gente, tantas histórias... Pensar que cada um de nós tem um destino único; como a nossa impressão digital, não existem dois iguais.
– Já tá tudo escrito? Ou a gente pode mudar?




Penso que a morte natural é corriqueira demais, portanto, no filme, é uma questão mais pessoal da personagem Teca; agora, se provocada, invade o âmbito central, perpassando a grande onda de tristeza a que todos estamos arriscados adentrar.

E A TAL DA LIBERDADE

Com certeza, um dos momentos ''mais''. Representa para a personagem e simboliza para nós: a libertação. Livrar-se do que nos prende e nos aperreia. Ir de encontro, talvez novamente, à paz espiritual.


SOZINHO NA CIDADE e SORTE

As duas faixas ligadas ao tema, presentes na trilha sonora, são ''Sozinho na Cidade'' e ''Sorte''. Bruna Lombardi, talentosíssima, escreveu as duas. A primeira foi produzida por Carlos Alberto Riccelli, o diretor do longa, e a segunda por Zé Godoy.

Pra onde ela foi a cidade que eu tinha
e tudo o que era meu...
Eu tinha o chão, tinha o céu e agora
nem sei o que aconteceu.
Você foi embora e a rua vazia
a casa vazia doeu...
ainda queria dizer tanta coisa,
mas não deu...
Pra onde foi tudo o que eu tinha
pra onde você foi
e eu
vou pra onde?
Aonde a gente se esconde
do que aconteceu...
ainda queria dizer tanta coisa
mas não deu...
nessa cidade tão cheia de gente
ninguém sabe o que você sente
ninguém quer saber de ninguém




TÁ TODO MUNDO CONECTADO...
e o ciclo se estende a cada nova vida.

Existe uma grande teia na humanidade onde todo o mundo está interligado. Ambientado em São Paulo, O Signo da Cidade não deixa de cumprir seu propósito e vai além mostrando os buracos e abismos que permeiam a existência. O objetivo era estabelecer uma ligação entre todos os rostos do filme e isto foi muito bem alcançado.

É quase cem por cento a porcentagem de paisagens feias e mal alumiadas de São Paulo que é mostrada; o vislumbre da ‘’parte bonita’’ domina; mas não adianta, pois, até para os que não vêem beleza no deteriorado centro da cidade, rotineiramente, é possível a apreciação deste em O Signo...



As tragédias acontecem, as pessoas em seus cárceres emocionais se afundam cada vez mais, a boa intenção tenta comprar felicidade com dinheiro e o próprio consegue não representar absolutamente nada para o bem, enquanto o preconceito e o cinismo perduram em nossa sociedade e levantam suas máscaras de hipocrisia para contra-atacar.

Agora mesmo alguém deve estar se encaminhando para a morte; do outro lado da cidade, há pessoas comemorando o nascimento de uma nova vida. É isso que vivemos.

O problema não é existirem pessoas felizes enquanto outras têm vidas amarguradas, mas sim o egoísmo e a indiferença das privilegiadas quanto às lesadas. É comum ouvir e ler coisas como ‘’vamos combinar que essas pessoas sugam a energia de qualquer um’’ de pessoas que, supostamente, nunca precisaram de ajuda.


Numa cidade como a do tamanho de São Paulo a crueldade pode ultrapassar os níveis de diversidade cultural e humana, já altíssimos. Pare para pensar nos que estão carentes de caridade e solidariedade, nos homossexuais, na violência. É disso que São Paulo mais precisa. São Paulo precisa de amor. De amor-próprio, de amor pelo próximo, seja ele como for.


Quando Caetano fala ‘’pra onde ela foi a cidade que eu tinha, e tudo o que era meu.../Eu tinha o chão, tinha o céu e agora nem sei o que aconteceu’’, define bem o sentido figurativo da roda gigante – hoje, lá em cima; amanhã,...

E, agora, eu preciso de você.

– Se perdem gestos, cartas de amor, malas, parentes... Se perdem vozes, cidades, países, amigos. Romances perdidos, objetos perdidos, histórias se perdem. Se perde o que fomos e o que queríamos ser. Se perde o momento. Mas não existe perda, existe movimento.






Opinião pessoal/expressa: O Signo da Cidade é mais que um filme; é uma expressão artística do sentimento de tristeza exarcebado que, no conjunto, existe nesta Cidade.

Muito bom!

São Paulo de todas as cores, de todos os amores, minha São Paulo faz hoje 459 anos. Que você continue viva, acolhedora e o mais importante: que supere as indiferenças, todos os tipos de preconceito e violência junto com a sua, a nossa população!

E quem vem de outro sonho feliz de cidade
Aprende depressa a chamar-te de realidade
Porque és o avesso do avesso do avesso do avesso ♫

Parabéns, São Paulo e parabéns, Mercado Municipal Paulistano, por seus 80 anos de existência!

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